Sabores Orientais

Restaurante dedicado às comidas Asiáticas, nomeadamente sushi.

Depois de acabar de arrumar os meus poucos pertences nos armários do quarto, apercebi-me de que ainda não tinha feito compras para a cozinha e como não sabia onde encontrar uma loja de conveniência, percorri as ruas a pé até ao Centro Comercial.
De todos os restaurantes, o que me pareceu mais simpático foi o de Sushi. Apesar de nunca ter provado Sushi, era uma curiosidade que queria satisfazer havia imenso tempo. Por isso entrei no restaurante e sentei-me ao balcão, onde vários tipos de Sushi circulavam num tapete rolante, em género de all you can eat.
Enquanto comia, reparei nas pessoas à minha volta: não eram muitas e maior parte eram casais metidos na sua própria conversa. Havia um rapaz sentado sozinho, mais ao fundo da sala, com um prato de gambas e soja, que parecia abstraído pelo seu próprio mundo. Consegui perceber que os dois empregados que se encontravam ao balcão estavam a comentar, sem pudor nenhum, a sua estranha aparência.

O facto de estar a ouvir as conversas paralelas das outras pessoas misturado com os comentários em asiático dos empregados deprimia-me, mesmo que estivesse a ouvir música para me acompanhar na solidão daquele que seria o meu primeiro jantar num dos restaurantes da cidade. Lembrava-me as vezes Londres quando saía demasiado tarde do trabalho e sabia já de antecedência que não haveria jantar de sobra para mim. Agarrei nos pauzinhos e comecei a comer os rebentos de soja enquanto via os pratos a circular naquele balcão a minha frente sobre um tapete rolante. Não que me importasse muito, mas também não podia ficar a olhar eternamente para o comer, alem disso, eu não tinha problemas com nada, pois sabia perfeitamente quem era. Olhei em redor e deparei com uma rapariga a escolher o mesmo prato que eu. Uma rapariga que estava sozinha, como eu, no meio daquelas pessoas todas no restaurante. Os nossos olhares cruzaram-se durante segundos e lancei meio sorriso para ela, colocando novamente os meus olhos no comer e na coca-cola a borbulhar.
Passado umas horas estava cheio, estafado. Simplesmente paguei e levantei-me agarrando em todas as minhas coisas comigo. Começei a caminhar para a saida e voltei a olhar para a rapariga lançando-lhe um outro sorriso. Segui para "casa".

Correspondi ao sorriso do rapaz com um sorriso discreto, voltando rapidamente a concentrar-me nas minhas gambas e nos meus rebentos de soja.
Não tinha a certeza de querer voltar àquele restaurante, simplesmente pelo burburinho asiático que se ouvia em relação a ele. "Meu Deus, é só uma pessoa!", pensei para com os meus botões, quando toda aquela inquietação me começou de facto a irritar. Dei um gole na minha água mineral - não era adepta de bebidas gaseificadas, apenas quando tinha realmente sede e só elas me matavam a sede, mas mesmo assim optava por uma àgua das pedras a uma cola - e pensei que para a próxima, quando tivesse a despensa em condições, podia decidir-me entre fazer comida chinesa, ou até aprender a fazer Sushi. Assim podia evitar aquela rude falta de educação por parte dos empregados.
Aquele comportamento revoltava-me porque sabia como era uma pessoa sentir-se rejeitada pela roupa que usava, fosse a mesma boa ou má. Estava habituada ao sentimento de rejeição, pois acontecia-me frequentemente ser rejeitada por ter estado num orfanato e não ter acesso a uma vida opulenta, como a de muita gente que tinha conhecido até ali.
Enquanto acabava de comer, o rapaz passou por mim, voltando a sorrir-me. Retribui novamente o sorriso e quanto terminei de jantar voltei para casa.

Estacionou no piso mais próximo dos restaurantes. Com imensos restaurantes para ir, Veronika decidiu optar os sabores orientais porque parecia o único que era menos calórico e gorduroso que os outros, para alem que os asiáticos tinham sempre cuidado com a apresentação do prato. Entrou e reparou no ar chique que tinha, mesmo como gostava. Entrou, sentou-se e, como apreciadora daquela comida, pediu Sushi. Enquanto esperava ficava a falar com a sua melhor amiga ao telemóvel a contar as novidades. Ficou numa mesa perto do vidro que dava para o restante centro comercial. Começaram pelas ostias de camarão, das quais Veronika comeu por estar completamente esfomeada. Por fim veio o sushi, bem apresentado como sempre. Ficou por ali a comer, sozinha, pensando estrategicamente e delineando quais seriam os próximos passos.

Entramos no restaurante de comida oriental. O facto de ele me perguntar se queria jantar lá, foi engraçado de se ver. Antes que pudesse responder, ele já se adiantara a dizer que queria comer qualquer coisa. Pelo nome só podia ser sushi. Yuck, odiava sushi. Mas lá aceitei, pois deus me livre desfazer dos desejos daquele rapaz não é verdade? Suspirei. Tinha de arranjar uma maneira de cuspir o sushi, caso só houvesse isso no restaurante.
Entramos os dois, lado a lado. Olhei em redor na esperança que houvesse mais do que aquilo. Enquanto o homem nos indicava para a mesa, reparei que, por entre outras pessoas que passamos, passamos por uma rapariga completamente linda . Femme fatalsurgiu na minha mente. Era mesmo muito bonita. Tentei passar despercebida e por fim sentamo-nos a frente um do outro, onde pude reparar com mais atenção que até sentados ele era bem mais alto que eu, ainda assim curvado. Reparei em todos os pormenores enquanto esperava a ementa. As mãos grandes, finas e cheias de calos, as roupas largas, as tranças pretas, a fita no cabelo juntamente com um gorro ou chapéu ou que raio era aquilo. E o piercing no lábio, que ficava-lhe extremamente bem.
A salvação no entanto foi a ementa, que me ajudou a não reparar no rapaz e que este não reparasse que eu estava a reparar nele. Agarrei nele e procurei um nome que fosse minimamente conhecido. E só depois é que li que o nome que eu queria estava incluído no menu buffet incluindo com as outras coisas. As sobremesas, sopas, crepes e bebidas é que não estavam incluídas. Olhei-o
-E que tal escolhermos o menu buffet? – sorri e apontei-lhe.

- E que tal escolhermos o menu buffet? – Perguntou-me.
- Hmmm... - Murmurei, enquanto os meus olhos percorriam todas as iguarias deliciosas do menu - Estava-me mesmo a apetecer um Tekkamaki, ou um Temaki ou um Uromaki... - Comentei, com os olhos brilhantes - Já alguma vez provaste Nigirizushi? - Perguntei-lhe, interessado.

“QUÊ?!” pensava mentalmente. De facto, sabia bastante sobre o Japão, mas não me aventurava a saber o nome de sushi, até porque eu não gostava nada daquele sabor mesmo que já me tivesse aventurado a experimentar. Bem parecia que teria de ser eu a aventurar o menu buffet. Não podia pedi-lo para comer comigo quando ele queria comer aquelas coisas.
-Hmm, não – para mim sushi só tinha uma variedade. Parecia tudo igual! Dai que também não podia dizer-lhe já que não gostava de sushi para ele não ficar triste uma vez que lhe estava a apetecer comer sushi naquela noite. Ficou a pensar no que é que havia fazer: Antes de mais pediram ambos coca-colas. Fez um grande sorriso e antes que ele a convidasse a comer levantou-se para ir buscar outra coisa. Era melhor encher-se com comida de facto ela gostava e depois é que fazia o grande esforço ao novo amigo de comer sushi. Odiava aquilo, tinha de admitir, mas não queria dar a parte fraca. Enchi o prato cheio de massa de arroz, rebento de soja, carne, arroz chao-chao, gambas, etc.

Fiquei surpreendido com a variedade de comida que ela meteu dentro do prato. Normalmente, as raparigas estavam sempre de dieta - quer fosse de comida que engordasse ou não - mas não liguei muito, e continuei a percorrer o menu e todos os deliciosos tipos de sushi que ali se encontravam.
Dei uns golinhos na minha Cola enquanto tentava decidir qual dos vários tipos escolher. Ela estava entretida com a massa que tinha no prato e nem deu mais atenção ao cardápio. Como não me consegui decidir, ia mandar vir todos.
- Não me consigo decidir por um só tipo. Vou mandar vir três ou quatro diferente. Boa ideia, não? - Perguntei, sorridente, fazendo sinal ao empregado de mesa.

Ricalhasso – pensei, rapidamente, mas não fiz comentários sobre isso, até porque era feio, mas que ele era e tirava proveito, sim era verdade. Tinha posto poucas quantidades do comer no prato dando assim variedade no que comer. No entanto o prato estava cheio. Cá pra mim ele achava-me uma gorda por comer isso tudo. Enquanto ele falava e escolhia através do menu, comia a bela da massa de arroz com cuidado. Mastiguei, saboreei, bebi a coca-cola que enchia me o estômago rapidamente e depois disse-lhe.
-Para mim sushi é sushi. Não vejo diferenças – disse honestamente. E enquanto ele pediu com aqueles nomes todos eu fiquei ali como uma naba. Ele esperou e enquanto isso, mesmo que não fosse nada higiénico, estendi-lhe – Queres provar alguma coisa daqui? É bem melhor que sushi.

- Não quero, obrigada - Agradeci, quando ela me ofereceu a massa - Bem, o sushi não é todo igual. Já comi sushi em várias casas de sushi, incluindo no Japão itself, e garanto-te que têm muitas diferenças - Comentei. Comecei a pensar que talvez a ida ao sushi não tivesse sido a melhor, uma vez que a ideia de sushi a deixava quase arroxeada - Talvez o sítio onde tenhas provado a primeira vez não cozinha-se sushi como o sushi deve ser e tenhas ficado com má impressão. Vamos experimentar o daqui - Disse, sorrindo ao ver todos os pequenos pratinhos sendo pousados em redor da mesa.

Fiquei completamente as cores. Ele já tinha ido ao Japão? Ele sabe por acaso o que eu dava para ir? Ir as ruas de Harajuku, ou Shibuya, ou mesmo a torre de Tóquio! Rico, rico rico!, pensava. Para mim Tóquio era ainda um destino difícil de ir. Não tinha dinheiro para ir no momento. Percebi que ele sabia muito sobre sushi, e até foi um bocado de burrice minha, sabendo perfeitamente como funcionava a cultura japonesa era OBVIO que tinha vários estilos de sushi, mas para mim parecia tudo igual, e eu não gostava! Não gostava da alga envolvente, do arroz pegado e doce. Odiava arroz doce e odiava tudo o que era cru. Dai que, era impossível para mim gostar de sushi. Olhei para aquilo e forcei um sorriso enquanto comia o meu prato. Nunca ia comer aquilo.
-Não obrigada, deixo o sushi para ti, tu é que estavas com vontade de comer – sorri-lhe.

- Está bem, cortes - Brinquei. Mas por acaso até estava com fome, por isso o Sushi ia descer bem para me aconchegar o estômago. Uma coisa boa no sushi, era o facto de ser uma comida levezinha. Há medida que a hora se foi tornando mais tardia, mais pessoas começaram a aparecer para comer a deliciosa comida japonesa. E todas apostavam em sushi, em vez do menu buffet - Se algum dia fores a Shibuya, vais mudar de ideias em relação ao sushi, acredita - Comentei, agarrando nos dois pauzinhos e começando a comer os pequenos rolinhos que estavam espalhados pelos pratinhos.

Olhei-o. Se fosse seria daqui a muitos anos quando o sushi deixasse de ser utilizado. Ou assim. Comeu também ela com pauzinhos o seu comer, e ficou a olhar para todos para o sushi. Não gostava, não gostava!
Suspirei e comi o meu resto do jantar, até porque não ia dar o braço a torcer. Era péssimo comer, vê-lo a olhar para mim para ver a minha reacção e se gostava e depois levar o guardanapo e cuspir por não conseguir comer aquilo. Por isso engoli tudo com um sorriso.
-Claro, é já amanhã – disse, a rir. Era obvio que éramos completamente o oposto mas mesmo assim gostava da companhia dele – Devias provar coisas bem melhores que sushi, tipo isto – apontou para as gambas.

- Eu gosto de gambas - Comentei, a meio de uma mastigadela. Sabia que era má-educação, mas a expressão dela foi tão engraçada - Mas posso comer gambas num restaurante chinês, até prefiro - Estava a falar num tom ligeiramente mais alto do que o anterior, devido ao acumular de pessoas que se estava a dar. Ela encolheu os ombros e continuou a comer a sua massa japonesa, provavelmente, para neutralizar o sabor do sushi que tinha acabado de provar. Ela não tinha reparado, mas a cara tinha passado de cor de pele a roxo assim que o pequeno rolo de arroz lhe tocou nas papilas gostativas. Até tinha piada se ela o tivesse cuspido, mas acabou por não o fazer.

Ele não tinha reparado, mas eu fiz um esforço enorme para comer aquela amostra de sushi, das mais pequenas que havia no prato só para lhe fazer a vontade e não parecer demasiado mal educada. Comi, mastiguei e consegui sentir o sabor do arroz doce colado um ao outro impossível de conseguir mastigar. Tinha de ser tudo uma vez. Tentei colocar uma cara normal, nada tensa enquanto acenava o quãaao bom estava. Odiava, e se não fosse mau cuspir, até tinha o feito. Depois bebi uma data de Coca-Cola enquanto ele falava sobre as gambas.
Olhei-o e continuei a comer as minhas gambas e massa. Também preferia o restaurante chinês, mas visto que ali no buffet tinha comida chinesa entre outras orientais, era a única que podia comer. Sorri-lhe e vi que as pessoas já se reuniam mais e mais para jantar, dai que ele tinha de falar num tom mais alto. Reparei em vários detalhes dele, uma vez mais enquanto saboreava a minha massa e os rebentos de soja
-Estava … não estava mau o sushi, mas não o troco por isto – disse a sorrir. Menti sobre o sushi, mas era por uma boa causa. Não gostava nada de mentir, não era nada o meu género, até porque eu dizia logo tudo na cara, mas ele quis tanto comer sushi que era mau dizer-lhe desde já que odiava sushi. Acabei de comer e vi o que estava na lista de sobremesas -Queres algo? - Só comia algo se ele comesse.

Ela acabou de comer enquanto eu divagava sobre gambas e sushi.
- Hmm, se formos falar de sobremesa, admito que prefiro as chinesas, de facto - Acabei por confessar, sorridente - Espero sinceramente que as façam aqui, não achas? - Perguntei-lhe, voltando a sorrir.
Chamei novamente o empregado de mesa, que se dirigiu até nós, bastante prestável. Perguntei-lhe se faziam banana frita com gelado. O empregado respondeu afirmativamente.
- Queres dividir banana frita com gelado comigo? - Perguntei-lhe, acordando-a do transe em que ela tinha caído.

Sorri-lhe e passei a mão pelos cabelos. Coloquei os cotovelos na mesa enquanto ouvia-o a falar sobre comida, especialmente por ele saber bastante sobre comida asiática. Parecia-me culto, mas tinha quase a certeza que isso era por ter viajado imenso, ganhando cultura mas apenas sobre comida. Não sei, não me parecia daqueles rapazes intelectuais. Olhei-o e acordei dos meus próprios pensamentos sobre uma beleza qualquer que ele tinha que me atraia. Acenei enquanto o homem recolhia os nossos pratos. A banana frita, não conseguia acabar sozinha, por isso, achei uma boa ideia partilhar.
-Claro – respondi apenas, colocando o braço no meu pescoço, como única resposta depois de acordar ao transe. E logo quando o homem foi-se olhei-o:
– Mas isto não conta com um date, ou conta? – Lancei um sorriso alegre para o provocar. Aquela coisa da sobremesa até parecia meio para o lamechas, mas era apenas para partilhar, era isso que eu tinha de pensar!