Bar da Praia: "From the Sea"

Um bar que acompanhanha o bom nome da praia. Situado num bom local e com as melhores tostas, sandes e saladas frescas de toda a baía de Runaway, o bar "From the Sea" é um local frequentado não só por visitantes mas tambem por residentes. Preços baixos, comida fresca e pronta na hora, música ao vivo, com esplanada sobre o mar calmo, é um local que não deve deixar de frequentar.


Empregados Full-time:
Empregados Part-time: Mia Harris

Mia acordou bem-disposta. Durante a manhã acabou por ficar em casa a tratar da roupa suja e da pilha que tinha para engomar. Vestiu umas skinny pretas combinadas com uma blusa larga cinzenta e uma botas curtas.
Saiu de casa depois do almoço, para tratar de uns papéis na faculdade, e quando olhou para o relógio que trazia no pulso constatou que estava quase na sua hora de expediente. Quando chegou arrumou as suas coisas no respectivo cacifo e vestiu o avental. Arrumou uma ou outra cadeira e, enquanto esperava que algum cliente entrasse, repôs o stock de coca-colas.

Tinha passado o dia todo a tratar de papéis e a passear para conhecer os cantos à casa, para localizar mais ou menos onde ficava cada coisa. Não foi muito difícil, mas com tempo ia decorar cada local e o caminho até ele. Tinha de arranjar trabalho, mas não sabia bem por onde começar. Cheguei até a praia. Espantava-me haver uma no meio desta cidade. Era raro ir a praias porque simplesmente não era a minha onda, só a noite é que podia ser mais tolerável. Nem me descalcei. Sentei-me numa rampa que dava acesso a praia a ouvir o som do mar a embater nas rochas e a deslizar sobre a areia. Via o por do sol a esbater-se e o céu a ficar sem luz aos poucos e poucos, num instante estava lá e num piscar de olhos o ambiente era completamente diferente. Estava um pouco de frio mas o suficiente para me manter ali. Alem disso, nada era pior que o ambiente de Londres. Vi um bar agradável ao fundo. Sabia que o provável era as pessoas estarem a jantar para irem as discotecas. Até seria a minha onda se estivesse na companhia dos meus amigos mais próximos. Aproximei-me desse bar e sentei-me na explanada. Eu e as minhas roupas pretas, conseguindo ser olhado de lado uma vez ou outra por um casal um pouco mais idoso. Isso não me importava de todo. Esperei pela empregada e assim que a vi a vir a minha frente disse:
- Boa noite, era um hambúrguer e uma Coca-Cola.

A morena ficou entusiasmadissíma com o primeiro cliente que aparecia depois de uma tarde monótona. Ajeitou o cabelo apressadamente e pegou num pequeno bloco de notas e numa caneta.
- Boa noite, o que deseja? - Perguntou com um sorriso assim que chegou junto da mesa onde estava sentado.
- Boa noite, era um hambúrguer e uma Coca-Cola. - Pediu calmamente. Por cima do papel, reparou no seu estilo extravagante e nas botas invejáveis que trazia. Quase a fazia desejar umas para si! Acenou e apressou-se a fazer-lhe o pedido. Fez o hambúrguer, colocou-o no pão e juntou-lhe queijo, tomate e alface. Cortou uma rodela de limão e enfiou-a na borda do copo, que já continha gelo no seu interior. Põs tudo num tabuleiro e voltou à mesa do cliente.
- Aqui está! Bom apetite! Se precisar de mais alguma coisa, por favor, chame.

Lancei-lhe um sorriso e agradeci. Agarrei no meu hambúrguer e lancei um sorriso meio irónico para mim próprio uma vez que ontem comera algo mais sofisticado e agora estava com algo gorduroso por entre as mãos. Dei uma dentada e senti todo o sabor da alface com os molhos o tomate e o queijo. Não estava nada mau, estava bastante bom até, melhor que algumas fast food que eram muito mais rápidas. Sendo eu magrinho não me importava de todo de comer coisas como essas. Bebi de uma assentada parte do meu copo e fiquei a ver o mar bem lá ao fundo. Estava tudo bastante silencioso e tudo que se podia ouvir eram algumas conversas paralelas na outra ponta do bar. Olhei novamente a rapariga e depois voltei a desviar o olhar comendo novamente parte do hambúrguer ficando a umas dentadas do fim. A praia a noite era um local bem engraçado. Talvez fosse lá perto da água. No entanto, com companhia seria bem melhor. Estar sozinho o dia todo, mesmo que durante a manhã tivesse a falar com amigos meus, era triste.

A sua hora de expediente terminara. A rapariga que a vinha substituir no seu turno acabava de entrar na cozinha , por isso tirou o avental e vestiu o seu casaco de cabedal preto. Verificou o telemóvel e verificou que tinha imensas mensagens dos amigos, na sua maioria a avisar que estavam atrasados. Bufou.
Olhou para a mesa onde o único cliente estava sentado e viu que ainda não terminara a sua refeição. Uma vez que já não estava a trabalhar, nada a impedia de meter conversa.
- Sabes... tens umas botas absolutamente fantásticas. - Afirmou, com um brilho nos olhos, sentindo-se estúpida por ter dito aquilo em vez de se apresentar primeiro. Riu-se. - Desculpa, sou a Mia.

Fiquei a pensar se a decisão de ter vindo para aqui era a melhor. Eu sempre pensei que sim. A vida era outra, conhecia-se outras pessoas e o clima era diferente. Sim, tinha sido. Tinha sido uma mudança para melhor. Tinha perfeita consciência disso.
Quando estava para enfiar o ultimo pedaço de hambúrguer delicioso na boca, oiço um comentário sobre as minhas botas. Olhei e vi que era a empregada. Voltei a olhar para trás e reparei a substituí-la. Reparei já em casais um pouco na casa dos quarenta a entrar no bar que parecia que ia transformar-se numa daquelas noites de karaoke e por aí. Lancei-lhe um sorriso e olhei para as minhas botas. Não eram nada de especial, era mais uma peça de roupa que tinha, mas lembrei-me perfeitamente onde as comprei e quando as comprei. Olhei-a e fiz-lhe um gesto para se sentar, se ela assim o pretendesse.
-Obrigado. Chamo-me Adam – e coloquei o dinheiro que era do hambúrguer e da coca-cola na mesa e guardei a carteira na minha mala. Olhei-a – vives por aqui há muito tempo?

Adam incitou-a a sentar-se. Puxou a cadeira e sentou-se à sua frente, pousando a mala no colo. O bar começara a encher e as pessoas olhavam para Adam como se nunca tivessem visto alguém com um estilo diferente. Talvez ele fosse de Nova Iorque ou de uma grande capital da Europa.
- Sim, apesar de ter nascido em Nova Iorque, vivo cá desde muito pequena. - Informou. - Como é óbvio não és de cá... - Sorriu. - ...vens para ficar?

Bebi o resto da Coca-Cola e olhei-a com um meio sorriso. Notava-se que ela era de lá. E eu era de um local oposto, numa grande metrópole sem coisas como aquelas e obviamente sem praia.
- Sim. Penso que sim, se isto correr bem – tinha primeiro de, com muito esforço, endireitar a sua vida como adulto. Aquilo era bem mais difícil, mas tinha de crescer. Estava na altura. Arranjar trabalho principalmente, para pagar todas as contas. Ia por os estudos de parte, como sempre pensara fazer porque nunca fui grande adepto dos estudos. Não queria aprender, alias, achava que a escola não me dava nada para aprender sobre a vida. Não ia servir para nada, para o futuro. Isso apanhava-se com a experiência, por isso trabalhar em lojas seria talvez o que, para já, era ideal, e a moça podia ajudar-me – Para já, arranjar trabalho.
E continuamos a falar pela noite dentro sobre coisas como trabalho e por aí. A noite, apesar do karaoke daquelas músicas bimbas, das quais não prestei qualquer tipo de atenção, foi bem gira. Não tinha sono e pelos vistos ela também não e acabamos por falar de banalidades. Falei-lhe de Londres e do que fazia de lá, dos meus amigos, de várias coisas, enquanto as bebidas iam e vinham. Vimos o amanhecer e depois decidimos combinar algo para hoje a noite, uma vez que ela tinha folga. Como não conhecia ninguém e precisava de espairecer, ali estava eu na mesma mesa a espera dela.

Acabou por ver o amanhacer com Adam. Tinham ficado toda a noite a falar de coisas banais, das perspectivas que tinham em relação a diversos assuntos e até da sua estúpida adoração pelas botas do rapaz. Quando chegou a casa já o sol ia alto, por isso fechou todas as janelas para que não entrasse qualquer raio de luz que pudesse perturbar o seu sono.
Tinha acordado tarde mas isso não a impediu de praticar o habitual exercício físico. Atirou com as chaves do carro para cima da mesa depois da ida ao ginásio e foi tomar um banho rápido.
Adam já estava à sua espera, exactamente na mesma mesa da noite anterior.
- Hey Adam! - Saudou, dando-lhe um beijo em cada bochecha. Foi rapidamente ao balcão pedir um café e sentou-se. - Já estás aqui há muito tempo? Atrasei-me! - Disse, rindo.

Estava decidida a explorar Runaway, nem que fosse sozinha. Tinha alguns amigos ali, mas nunca tinha, efectivamente, morado lá. Por isso, após longas horas a ponderar no que vestir, agarrei numas skinny jeans, numa camisola de malha larga e calcei umas botas a condizer com a camisola.
Decidi ir a pé, para poder ficar a conhecer mais sítios da cidade. Só conhecia o essencial, como o Centro Comercial e as escolas.
Pelo caminho encontrei uma placa com um mapa da cidade, onde estavam marcados todos os locais da cidade. Desconhecia que havia ali uma praia, sempre tinha pensado que era apenas mais uma zona metrópole demasiado habitada. Por isso segui pelas ruas, tentando não me perder, e, sobretudo tentando fixar o caminho de volta.
O céu estava limpo e as estrelinhas brilhavam no céu azul escuro. Os bares ao longo da baía estavam iluminados e animados, de todos eles saíam músicas diferentes que acabavam por se misturar todas cá fora.
Enquanto caminhava avistei a Mia, uma rapariga que tinha conhecido na loja, sentada numa mesa numa das esplanadas. Ela viu-me, por isso sorri-lhe tenuemente e acenei em sinal de reconhecimento.

Fiquei a mexer nas aplicações do meu telemóvel, e reparei que a minha “mãe” mandou uma mensagem a perguntar se estava tudo bem. Era estranho ela ter sequer perguntado sobre isso. Respondi apenas com um sim, e foi quando apareceu Mia. Levantei-me e sorri-lhe cumprimentado com dois beijos e feliz por ela ter aparecido.
- Não, não estás demorada – só tinha ficado lá uns 10 minutos sozinho a perguntar se ela tinha se esquecido daquilo. Agasalhei-me um pouco no meu casaco. Esta noite esta muito mais fresca, tinha de admitir. Pedi imediatamente duas coca-colas enquanto quase que via novamente a repetição da noite anterior. Olhei para a rapariga a acenar a outra pessoa. Virei-me para trás para ver quem era, mas não sabia de onde reconhecia aquele rosto.

Harris conversava tranquilamente com Adam quando o seu olhar se deteve na entrada da esplanada. Abigail, que lhe acenava com a mão e com um sorriso nos lábios, acabava de entrar. Mia também a cumprimentou, o que fez com que o rapaz olhasse para trás. Riu-se quando se lembrou da forma desastrosa como se tinham conhecido.
- Importas-te que ela se sente connosco? - Ele sorriu e abanou a cabeça negativamente. - Abigail, senta-te aqui se quiseres. - Convidou, com voz suficientemente alta para que ela a pudesse ouvir. - Adam, é a Abigail. - Apresentou.

Mia acenou-me alegremente quando me viu a cumprimentá-la.
Ofereceu-me uma das cadeiras vagas da mesa e eu aceitei, um pouco relutante comigo própria, porque tive medo de estar a interromper alguma coisa. Estava sentada à mesa com o rapaz do restaurante de Sushi. Mesmo que me tivesse esquecido dele, agora que o via de novo era impossível não me lembrar onde o tinha visto, devido àquele seu estilo freak. Quando me sentei, fui rapidamente atendida, pedi um café curto e uma garrafa de àgua natural. Quando finalmente me pus à vontade cumprimentei-o.
- Abigail - Apresentei-me, estendendo a mão ao rapaz, em sinal de cumprimento.

Olhei para Mia, não me importando de todo que a rapariga se juntasse a nós. Era da maneira que conhecia mais pessoas se bem que gostava muito do meu cantinho. Pelo menos para já quando não conhecia ainda bem as pessoas e não dava para ser tão extrovertido como era. Dei um gole na coca-cola fresca, mas não tão bem servida como de ontem, e fiquei a olhar para a rapariga que estava sentada ao lado de Mia, que estava sentada ao meu lado (porque estas mesas eram meio redondas, o que possibilitava melhor contacto). Estendi-lhe a mão também e apertei-a suavemente. Tinha umas mãos suaves, reparei, porque gostava de ver isso numa rapariga. Lancei-lhe um meio sorriso. Sabia que tinha visto aquela cara em algum lado mas não sabia de onde. Também não ia perguntar porque não era revelante.
- Adam – e voltei a encostar-me na cadeira. Estava ligeiramente cansado.
Olhei para o silêncio constrangedor que por ali andava enquanto pousava a minha cabeça na mão. Ouvia-se a música do bar e apenas isso. Olhei-as. Tinha de meter conversa. Tossiquei um pouco e procurei um cigarro na minha mala. Talvez não devesse fumar em frente delas, por isso guardei-o de novo na mala, e fingi procurar outra coisa qualquer -Conhecem-se a muito tempo?

Depois de vários minutos a tagarelar sem cessar, ficámos sem aparente tema de conversa, o que não deixou de ser um pouco constrangedor. Adam revelara-se uma pessoa talvez... misteriosa. O que combinava de certa forma com Runaway City.
- Conhecem-se há muito tempo? - Perguntou ele.
- Oh não... há uns dois ou três dias. - Mia riu-se e olhou Abigail. - Na verdade foi algo desastroso. Até te contava, mas depois rias-te de mim. - Deitou a língua de fora, rindo.

Aquele silêncio constragedor era absolutamente desastroso. No entanto, ri-me ao ver a expressão da Mia ao mencionar a maneira como nos tínhamos conhecido. Pensei em contar a história, mas não conhecia o rapaz de lado nenhum, e apesar de ele mandar um ar misterioso, a mim parecia-me simplesmente anti-social. Pelo menos, a mim, era a impressão que me dava. Mesmo assim continuava com pena da maneira como o olhavam. Talvez estivesse a ser parva, talvez ele não quisesse que tivessem pena dele. Ele não se vestia assim tão mal. Era freak, mas bem vestido e aquelas roupas que usava pareciam ter sido desenhadas nele, para ele. Perguntei-me a mim própria como é que ele conseguia pagar aquelas marcas, e tomei nota mentalmente para lhe perguntar se algum dia viessemos a ter uma relação mais próxima.
Continuei a sorrir à medida em que bebericava o meu café. Ainda estava quente, por isso tirei um cigarro da mala e recostei-me na minha cadeira.

Olhei para ambas enquanto formava um meio sorriso. A noite cada vez ficava mais fria e agasalhava-me no meu casaco de cabedal preto, enterrando-me na cadeira que parecia cada vez mais funda. Ao ver que uma agarrou no cigarro, decidi também agarrar num dos meus e acendi, inspirando e expirando o fumo e coloquei a beata no cinzeiro que por ali havia sobre a forma de uma concha gigante porque estava perto da praia. Não me interessava muito saber como se conheceram, mas achei por bem saber uma vez que não as conhecia bem, especialmente Abigail e também era uma forma de manter o assunto aceso. Isto era sempre assim quando não nos conhecíamos bem.
-Podes contar, não tem mal – acabei por dizer. Continuamos a falar durante parte da noite, e a certa altura tive de me despedir delas. Estava morto de cansaço. Dei dois beijinhos a cada um com um sorriso enorme por terem me convidado. Agradeci a Mia, e depois decidimos combinar algo um dia destes. Desapareci na noite.

- Consegui cair em cima da Abigail com uma tonelada de roupa. - Revelou. - Ela trabalha numa loja no Centro Comercial.
Ficou realmente tarde e Adam tomou a iniciativa de se levantar para regressar a casa. Escrevinhei o meu número de telemóvel num guardanapo de papel e corri até ele, que já estava ao pé do carro.
- Adam, espera! Já percebi que não dás confiança a qualquer pessoa por isso ficado agradecida por ma teres dado. De certa forma. - Disse desajeitamente. Estendeu-lhe o papel e ele viu o que continha. - Pode ser que combinemos alguma coisa para um dia destes. Se quiseres, liga. - Acenou-lhe e voltou para junto de Abigail.
Ambas pagaram a sua conta, trocaram contactos e também abandonaram a Esplanada.

Continuando com o passeio pela cidade, o almoço não tinha sido nada de especial e a fome começava agora a apertar... Achei que nada melhor do que uma tosta e um sumo natural no bar da praia para o lanche... Sempre gostei do mar, e achei que uma bela vista sobre o mar me ia trazer a tranquilidade de que preciso nesta nova cidade.
Cheguei e olhei em volta, tal como eu muita gente tirou o dia para passear pelo que vejo, afinal é domingo... Havia algumas pessoas a passerem na praia outra conversando alegremente nas mesas. Ocupei uma mesa sossegada mais retirada da confusão com uma vista magnifica, tal como as outras, sentei-me e fiquei à espera que me servissem...

-Boa tarde em que posso ser util? - perguntou simpáticamente um dos empregados
-É uma tosta mista e um sumo de laranja natural se faz favor
-Concerteza. - respondeu-me sem nunca tirar o sorriso da cara

Começo a gostar realmente deste sitio

Um Carocha Fusca de 1963 acabava de estacionar no estacionamento do From The Sea. Ainda sem saber como fora capaz de se levantar suficientemente cedo para ter ido à aula da manhã na Faculdade, Mia abriu o bar da esplanada.
Dispôs as cadeiras da forma habitual, passou um pano húmido nas mesas e colocou um suporte de guardanapos em cada uma delas. Repôs todos os stocks e abriu a caixa registadora para verificar se estava tudo em ordem. A hora de almoço aproximava-se, por isso queria ter tudo pronto para a chegada dos clientes.


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