Biblioteca Municipal

Entrei na Biblioteca Municipal e sorri perante o seu tamanho. Não sabia quais eram os livros que podia oferecer, mas algo me dizia que eram muitos. Apesar de ser de manhã, acendi as luzes, para que os livros e os locais de estudo ficassem bem iluminados. Dirigi-me para trás do balcão e fui observando, pela janela, as pessoas que passavam lá fora. De vez em quando uma pessoa entrava e perguntava-me onde era a secção disto ou daquilo. Eu tinha de ir procurar, pois ainda não conhecia bem a biblioteca; mas, assim, era da maneira que ficava a conhecer.
A Biblioteca não fechava à hora de almoço, por minha própria decisão. Não me importava de comer algo rápido, no meio daqueles livros todos. Óbvio que tinha de me cingir à minha secretária, pois não queria sujar nada. Então, abri o meu farnel por trás do balcão e comecei a comer, sem nunca deixar de tomar atenção a quem entrava ou saía. Quando alguém o fizesse, largaria imediatamente o meu almoço. Por agora, comia-o deliciada.
Ser Bibliotecária, por agora, não estava a ser algo demasiado cansativo. Tinha pena de só o poder fazer aos fins-de-semana. Não fazia a mínima ideia de quem tomava conta dela durante a semana, mas eu também não tinha tempo para isso. Especialmente agora, que tinha entrado no curso que queria.

Não haviam muitas pessoas na Biblioteca, o que tornava as coisas um pouco aborrecidas. Era óbvio que, durante a semana, a Biblioteca era muito mais frequentada. No entanto, eu não conseguia vir durante os dias de semana. Teria de me aguentar apenas com os fins-de-semana e começaria a trazer os meus próprios livros, para me entreter.
Olhei para o relógio que estava na parede e apercebi-me de que já eram horas de fechar. Tinha imensa vontade de ir dar uma volta, ou algo assim. O que mais me preocupava era não conhecer ninguém e ainda não ter feito nenhumas amizades. Tinha medo que a minha vida se tornasse monótoma, fora da Escola Superior de Dança. Então, decidi ir conhecer melhor Runaway. Sabia que não ia ter tempo para, em algumas horas, ver tudo. Mas ao menos já era alguma coisa. Desliguei as luzes e fechei a Biblioteca, com cuidado. E então, comecei a passear sem destino marcado.

Desta vez, não me tinha esquecido de trazer um dos meus livros. Abri a Biblioteca e fui imediatamente para trás do balcão. Olhei à minha volta e perguntei-me quanto tempo durariam todos aqueles livros, expostos nas prateleiras. Diziam que, agora, a durabilidade das páginas de papel era muito mais fraca que antigamente. Que os livros de hoje em dia podiam durar, apenas, cerca de trinta anos. Isso deixava-me meio assustada, pois sempre pensara que os livros que tinha me iam acompanhar durante a vida toda. Mas era para isso que existiam os E-Books... No entanto, eu não gostava mesmo nada desse novo sistema. Suspirei e sentei-me, abrindo O Memorial do Convento de José Saramago. As minhas raízes portuguesas até ajudavam em alguma coisa. Já de noite, fechei a Biblioteca e fui para casa.