Sala de Venda de Bilhetes, Pipocas e Bebidas.

Part-time - Audrey Miller.

Estava no que era um dos meus trabalhos para pagar as propinas da faculdade. Adorava cinema e quando soube que havia uma vaga para trabalhar lá em part-time, aceitei. No entanto fiquei logo com o turno de sexta-feira a noite, logo quando todas as pessoas vão sair a noite. Não que não me importasse muito de ficar a encher os baldes de pipocas, refrigerantes e fazer bilhetes para as outras pessoas verem os filmes, sempre seria melhor do que estar no meu apartamento novo. Fiquei a rever mentalmente o que tinha de fazer enquanto ninguém aparecia: Ir comprar comida, dar um jeito na arrumação da casa, conhecer a cidade, etc. Apetecia-me mesmo ir ver um dos filmes que estava em exibição. Quando fosse lá andar com uma vassourinha podia sempre acabar por ver um bocado. O melhor neste emprego era ter desconto em idas ao cinema porque sempre achei caríssimo ir ver um filme quando podia sacar e vê-lo em casa. O facto de estar sozinha no turno da noite estava a deprimir-me. A única coisa que me acompanhava era mesmo a música do rádio e os trailers dos filmes a passar num plasma mesmo a minha frente.

Estava novamente a morrer de aborrecimento em casa.
Apesar da Mia lhe ter dito que aconteciam todo o tipo de coisas excitantes em Runaway, ele ainda não tinha visto acção nenhuma e isso entediava-o bastante. Já tinha jantado, tinha encomendado uma pizza - os restos estavam agora espalhados pela bancada da cozinha, bem como uma duas latas de Coca-cola vazias. Depois arrumava, pelo menos para não parecer mal à empregada da limpeza que ia passar a vir três vezes por semana. Durante o fim-de-semana ia ter que deixar a casa em ordem por sua conta.
Ao fim de alguns minutos - enquanto se espreguiçava no sofá - decidiu que ir ver um filme era uma boa ideia, por isso agarrou nas chaves do carro e dirigiu-se para o cinema que ficava no Centro Comercial. Andava curiosíssimo para ver o 'Inception', diziam que era o filme do ano, mas ainda não tinha tido oportunidade de o ver, com a mudança para Runaway. No entanto, não deixou de lhe parecer um pouco triste passar uma Sexta-feira à noite a ver um filme, e ainda para mais, sozinho.
Afastou esses pensamentos da cabeça enquanto se dirigia à caixa para comprar um bilhete para a sessão das 23:35h. Decidiu que ia também comprar uma Cola e um balde pipocas gigantes.

Sexta feira a noite, toda partida de ter passado a noite toda a dançar, dormido só três horas, aturado os professores à tarde, Lily precisava de descanso. Mas não lhe apetecia estar sozinha em casa. E como fazia todas as noites, a noite de sexta era para ver filmes. Como os filme que tinha estavam vistos e revisto resolveu ir ao cinema. Queria companhia, mas não tinha piada estar sozinha a ver um filme, mas bem, até que o amigo voltasse de viagem, estaria sozinha.
Lily não tinha sido a única a ter a ideia de ver um filme a uma sexta a noite.
Aproximou-se do balcão e olhou para o cartaz, mas não percebia qual o filme que estava em exibição. Olhou para a rapariga que estava ali Olá, pode me dizer qual o filme que se pode ver agora? Batucou com os dedos no balcão, apressando se a perguntar, sorrindo.

Estava aborrecida naquela sala de cinema. O facto de nem vir muitas pessoas no cinema a estas horas estava a deixar-me espantada. Era sexta-feira, as pessoas saiam do trabalho e podiam ir ao cinema, em vez de irem para bares e discotecas. Pelo menos as pessoas mais adultas que era o que me estava a aparecer ultimamente. Apareceram uns quantos casais mas nos últimos 10 minutos não tinha aparecido rigorosamente ninguém. Via as pessoas lá a conversar enquanto esperavam para ver um dos filmes em exibição. Já tinha decorado os filmes e os horários que por acaso não eram muitos visto ser uma sala de cinema relativamente pequena. Por fim apareceu um rapaz. Olhei para ele com toda a naturalidade do mundo marcando no ecrã o filme desejado.
- Boa escolha – comentei para o rapaz, uma vez que ele parecia ter mais ou menos a minha idade e parecia não haver mal nenhum fazer isso entre jovens. Coloquei-o mesmo no meio da sala, ao fundo porque eram os melhores locais. Imprimi o bilhete e recebi o dinheiro dele. Vi que ele também queria um menu de pipocas grande e refrigerante.
- Queres doces ou salgadas? – Perguntei. Uma rapariga loira apareceu a frente do meio do nada e fez uma pergunta. Mesmo no tempo em que virei me para trás para buscar o balde de pipocas. Olhei-a. Já sabia aquilo tudo de cor – Inception e Salt para estas horas.
Depois fiquei a olhar enquanto enchia para o refrigerante do rapaz para este mesmo que estava a contar trocos e a miúda ficava indecisa entre qual filme ver.

- Doces - Respondi-lhe enquanto me entretinha a contar os trocos para pagar com dinheiro certo. Continuava a achar que ir ao cinema sozinho numa Sexta-feira à noite era deprimente, mas pensei que era pior ter que estar a fazer o turno na bilheteira àquela hora e ainda por cima, não poder ver o filme quando a bilheteira fechasse. Ligeiramente ao meu lado continuava a rapariga que tinha perguntado pelos filmes que estavam em exibição. De repente deixei de me sentir tão sozinho por saber que não era a única pessoa a ir sozinha ver o suposto filme do ano. - Sabes, aconselho-te a escolheres o 'Inception'. Dizem que o 'Salt' é o mesmo que o 'Tomb Raider', só que mais caro. Por isso se já viste o 'Tomb Raider', não vale a pena gastares dinheiro no 'Salt' - Agarrei no balde de pipocas e na Cola que a rapariga ao balcão me entregou e agradeci-lhe, sorrindo ligeiramente.

Lily mordeu o lábio. Ficou indecisa entre os dois filmes. Por um lado, Jolie era uma grande actriz e gostava dos filmes dela, por outro... DICAPRIO! Os olhos até brilharam só de pensar no actor.
O rapaz que estava ali na bilheteira, a comprar pipocas e coca cola, que a rapariga do balcão lhe dava, deu uma sugestão. Lily tinha gostado do Tom Raider, mas se o Salt era uma imitação, não valia a pena ver. Suspiro, já não ia ver a Jolie a saltar de um lado para o outro.
Oh obrigada agradeceu ao rapaz com um sorriso, tal como ele tinha, e virou-se para a rapariga Então... Então é o DiCaprio que escolho... colocou o dinheiro em cima do balcão Vamos ver se ele continua sexy sorriu divertida e querida, quando piscava o olho a rapariga E era uma cola, se faz favor....

Fiquei a olhar tanto para o rapaz que dava umas dicas das quais estava de acordo, segundo tinham me dito, porque ainda não tinha visto o filme (e o interesse não era tanto), e o outro filme que também ainda não tinha visto porque a oportunidade de ir ao cinema com alguém era nula. E era raro encontrar posições daquelas em que um rapaz estava só, uma rapariga estava só, começavam a falar e provavelmente acabariam por ver o filme juntos. Se calhar eram suposições minhas – que eram o mais provável.
Olhei para a rapariga e lá lhe reservei o bilhete, ela pagou e fiz um sorriso face ao seu comentário.
-Se calhar está igual – parecia mal não responder ao comentário. Enchi-lhe uma coca-cola e entreguei. Olhei as horas e vi as pessoas já a começar a entrar. Felizmente apareceu o meu superior que estava encarregado de me integrar no primeiro dia de trabalho a verificar os bilhetes. Menos mal. Entreguei-lhe o bilhete e olhei para os dois.
- Bom filme – comentei fazendo não se notar a minha tristeza por não poder ir ver a porcaria do filme também. Mas não importava muito porque para mim não era daqueles filmes que fosse mesmo entusiasmante de se ver. Alem disso tinha de ser completamente profissional. Voltei para o meu canto já a fechar as coisas todas ao vê-los a afastar e comecei a arrumar a bancada e a fechar tudo. Após isso, após limpar o cinema iria para casa. Não me apetecia era apanhar o autocarro de noite.

Lily agarrou no bilhete e na coca cola, agradeceu, seguido para a sala de cinema.
O rapaz ia à sua frente e Lily olhou para trás para o balcão. Era triste trabalhar numa sexta a noite, vendo os outros divertidos. Mas não a conhecia, por isso não tinha o direito de se meter na vida dela. e talvez ela nem quisesse assistir, ou talvez já tivesse visto, ou tinha que estar ali a trabalhar. Encolheu os ombros.
Lily voltou-se para a frente , passando pelas pessoas e entrou na sala onde a tela ainda estava negra.

Olhou uma última vez de relance para a rapariga ao balcão, vendo-a encostar-se ao balcão com uma expressão aborrecida e teve momentaneamente pena dela. Provavelmente ia ter que esperar ali, sozinha, durante as duas horas e meia que o filme iria durar e no fim, ainda iria ter que limpar a porcaria que os outros fizessem na sala de cinema. Nada agradável, mesmo nada agradável. Com a sua distracção acabou por ir sem querer contra a rapariga indecisa e os pensamentos acerca da rapariga do balcão ficaram esquecidos no fundo da sua mente.
- Desculpa - Pedi, enquanto ela se endireitava. Decidi ser cavalheiro e ceder-lhe passagem de modo a que ela passa-se à minha frente nas pequenas escadas que davam acesso às filas de cadeiras de cima - Importaste que me sente aqui? - Perguntei, apontando para o assento vago ao lado dela.

Fiquei a ver as pessoas entrarem todas nas salas de cinema e fiquei a ver o meu supervisor a ver dos bilhetes. O filme de Salt mais provavelmente já estaria a meio e era tudo para o Inception. Comecei a arrumar todas as coisas que faltavam ao balcão para depois ele ajudar-me no fecho de caixa uma vez que ainda não podia fazer sozinha. Desliguei todas as luzes e fechei tudo já como planeado. Estava pedrada de sono por dentro mas queria manter-me acordada. Assim que o homem começou a fechar as portas veio imediatamente ter comigo, e fiz um ar de pessoa acordada. Juntou-se a mim e abrimos a caixa começando a contar o dinheiro juntos naquele silêncio enquanto conseguíamos ouvir os anúncios do filme. Ele ensinou-me a fazer tudo e acabamos por ficar a falar um com outro, mesmo que no fundo não fosse muito a baila com ele. Cerca de meia hora depois, as pessoas do outro filme começaram a sair e eu decidi ir lá limpar a porcaria do chão. Comecei a ouvir a música dos créditos que me acompanhava naquilo. Felizmente não estava muita porcaria por isso foi rápido e assim que sai da sala o meu supervisor dispensou-me de limpar a outra sala porque ele fazia. Sorri, agradeci e fui a correr para apanhar o autocarro que provavelmente seria dos últimos a passar naquela zona da cidade. E mesmo assim não sabia bem movimentar-me com aquilo porque era o meu terceiro dia na cidade, se não tanto. Quando fiquei sentada em frente ao centro comercial, já na paragem, fiquei a pensar no rapaz e na rapariga do cinema, mesmo por casualidade. Perguntava-me se estavam a gostar do filme, se o viam juntos ou outra coisa mais, enquanto olhava para as minhas unhas e esfumava da boca tentando-me manter acordada. Sai pouco tempo depois.

O tempo andava bastante aborrecido: ou fazia um calor insuportável ou estava ligeiramente frio durante o dia. Isso não era bom, pois não me elucidava sobre passar o dia a apanhar o sol à beira da piscina ou sobre passar o dia debaixo de um cobertor a ver filmes.
Suspirou, sentado no banco dianteiro do seu carro. O dia estava soalheiro, ao menos isso. Tinha saído de casa porque a sua nova empregada - uma senhora espanhola, que pouco ou nada percebia do que ele dizia, mas enfim - estava a fazer limpezas e o barulho do aspirador e demais aparatos domésticos estava a incomodá-lo.
Tinha conduzido sem destino até ao Centro, mas não tinha nada em mente. Resolveu deambular pelos corredores da superfície comercial, esperando encontrar algo que lhe interessa-se. E de facto encontrou: quando passou pela zona dos cinema viu a Audrey nas pipocas. Estava com a cabeça apoiada nas mãos e fazia balões com a pastilha elástica, claramente uma tentativa de espantar o tédio, uma vez que aquilo estava às moscas porque provavelmente as pessoas estavam nas salas de cinema.
- Olá Auds - Cumprimentou-a, aproximando-se e encostando-se ao balcão. A rapariga assustou-se e deu um pulo, como que caíndo de novo no planeta terra. Auds parecia-lhe uma boa alcunha, porque o fazia lembrar do seu Audi R8.

Quarta-feira tarde.
Mais um turno que tinha de fazer nas pipocas e na venda de bilhetes para poder pagar a renda do mês que se avizinhava porque já tinha gasto todo o meu dinheiro na matrícula, já que a minha mãe ajudou-me a pagar o primeiro semestre. Estava naquela tarde em que as três salas que havia naquele cinema minúsculo, estavam ocupadas e ainda não tinham chegado pessoas para comprar bilhetes e se tinham, eram ocupadas por um colega meu. Tentava manter-me ocupada mas parecia ter sono. Ficava a ver na televisão a frente os trailers a passar dos futuros filmes e fazia a minha lista mentalmente do que tinha de sacar para ver – isto é, quando tivesse computador. Ouvi uma voz ao meu lado, e assustei-me olhando rapidamente para a pessoa que estava do outro lado do balcão e que anteriormente estava fora do meu campo de visão. Lancei um sorriso e voltei a manter a postura no balcão, pensando no nome que ele tinha acabado de me dar, que era original porque geralmente davam-me outro nickname.
-Hey… Thomas – sem qualquer tipo de orginilidade no momento, não sabia do que lhe chamar. Tommy? Tom ficava bem, mas depois chamava-lhe isso, se bem que de originalidade não tinha muito. Este rapaz parecia nunca estar ocupado, mas de facto, isso eu já sabia a razão porquê. Era um miúdo rico. Também espantava-me ser ele a única pessoa que eu conhecia e vê-lo bastantes vezes por semana. Ia perguntar-lhe algo quando vi o meu colega a lançar um olhar de “estas num local de trabalho”. Mordi o lábio e fiquei a olhar para uma cliente que estava atrás de Tom, como a minha mente agora assim o chamava, fosse atendida.
- Espera ai – disse, e atendi com toda a delicadeza a mulher enchendo-lhe as pipocas, o ice tea e dando um gelado para o miúdo irritante que não parava de fazer birras porque queria o boneco que estava na vitrina. Por fim, pagou e foi para as cadeiras ao fundo do cinema e o meu olhar voltou a dirigir-se para o rapaz de tranças e piercing no lábio. Coloquei o meu ar mais profissional enquanto lançava-lhe um sorriso – Vais desejar alguma coisa?

"Pff, superiores", pensei, observando o colega dela do outro lado do balcão.
- Vais desejar alguma coisa? - Perguntou-me. A expressão do colega dela ficou novamente mais relaxada. Afastou-se para fazer outra coisa. Soltei um longo suspiro e sorri.
- Sinceramente, apetece-me um cigarro, mas acabei de entrar aqui dentro e não me apatece ir lá fora só por isso - Comentei - Por isso quero um balde de pipocas gigantesco, para o caso de vir a ficar em casa o resto do dia, a ver filmes - Disse, descontente.

Ela sorriu e afastou-se para pôr as pipocas a fazer, voltando vinte segundos depois e encostando-se novamente ao balcão.

Comecei a fazer mais uma fornada de pipocas doces uma vez que estas, em contrapartida as salgadas já estavam a ficar sem quase nada. Fiquei a pensar no que lhe havia de dizer enquanto via as pipocas já a serem feitas. Apontei para o pacote maior que havia por ali, aquele XXL que por vezes os miúdos poupavam só para ter um e partilhar, que geralmente era o meu caso, e lancei um sorriso ao ver que era mesmo esse que ele queria. Não sabia como é que ele ia comer aquilo, mas pelas roupas dele não dava para ver se ele era fininho e precisava de se alimentar ou não, ou se era simplesmente normal e esfomeado por algo doce. Encostei-me ao balcão e cruzei os braços no mesmo ficando apoiada neles. Olhei-o.
-Tens uma sala por ai de fumo, mas acredita que não queres ir para lá – comentei, porque até se via o raio do fumo como se de ar normal se tratasse. E depois lancei um olhar para o cinema e suspirei
- quem me dera ficar em casa a ver filmes, mas o meu apartamento só tem quatro canais e estes passam só filmes quando eu estou a trabalhar – o que era uma porcaria porque estava mesmo a apetecer ficar uma noite a ver um filme. Ambos estávamos meio descontentes. Ele porque não tinha para fazer e eu por estar completamente oposta apetecia-me ter tempo para poder relaxar e estar com os meus amigos, que tirando Thomas que era mais um conhecido por agora, eram nulos por ali.

Sim, ia levar um pacote de pipocas XXL, provavelmente ia comê-las todas na mesma, mas naquele momento estava a comprá-las unicamente para o colega gerente não nos vir importunar.
- Uns com tanto e outros com tão pouco - Comentei, ligeiramente deprimido. Ela estava deprimida por ter que trabalhar e eu estava deprimido por estar a ter uma estadia bastante aborrecida até ao instante - Bem, podemos trocar: eu empresto-te o meu leitor de dvd e os meus filmes todos e tu indicas-me um sítio onde uma pessoa se possa divertir numa Quarta-feira à tarde e que, já agora, tenha pessoas com as quais eu possa conviver, uma vez que até ao momento só falei contigo e com a Mia.

Ela afastou-se novamente até às pipocas, por isso continuei encostado, à espera que ela voltasse com o meu pacote XXL e que me viesse responder.

Fui ver das pipocas e vi que já estavam boas. Agarrei no pacote e coloquei junto das outras. Geralmente mandavam-mos já vir pipocas feitas. Enquanto isso, enchia o pacote dele que era enorme e uma vez entregue, registei o pedido e pedi-lhe a quantia – porque ali não havia borlas. Fiquei a pensar nos locais que conhecia e que sinceramente não eram muitos.
-Sinceramente, não te posso ajudar, não conheço nada daqui para alem a faculdade e os meus locais de trabalho e a única pessoa com quem falo és tu – comentei. Parecia bastante infeliz apenas conhecer uma pessoa numa única cidade, mas era verdade, por isso não sabia quem é que seria essa Mia. Não gostava nada quando me falavam das pessoas e eu ficava completamente ignorante e a olhar pasmada como se fosse minha obrigação saber quem eram. O facto de agora andar super ocupada, e note-se que eram ainda apenas praxes na faculdade, não tinha quase tempo nenhum disponível. Olhei-o – no entanto, aceito a tua colecção de dvds para ver, mais o leitor, isto é se a porcaria daquela televisão dos anos 50 der para isso – comentei a sorrir, e dei-lhe o troco voltando a reparar no quão bem ficava o piercing no lábio.

- Eu não devia ter mudado de cidade.. - Comentei baixinho, entregando-lhe o dinheiro para pagar as pipocas. Por vezes achava, que ter ido para ali, tinha sido a pior ideia do mundo. Mas se estivesse em casa, não queria estar lá e se voltasse agora, iria dar parte fraca ao meu pai e teria que decidir entre voltar para a universidade ou ocupar o meu lugar na empresa dele e voltar para a universidade. De uma maneira ou de outra, iria ter que voltar a estudar e de momento, não me apetecia - Sendo assim, tu não tens nada para fazer, eu não tenho nada para fazer, portanto, queres sair comigo, não queres? - Perguntei sorridente, quando ela me entregou o troco.

Ao ouvir aquele comentário baixinho também fiquei a perguntar-me o que tinha ido ali fazer. Sabia que a razão maior tinha sido a faculdade porque tinha aplicado me e aquela foi a que me aceitou. Sabia que tinha a partir daquele momento deixado de ter vida social, e o facto de não ter nenhum amigo por ali, deixava-me completamente deprimida. Fiquei a ver o tamanho daquele pacote de pipocas enquanto ele tirava umas cinco e enfiava-as na boca numa assentada. Fui encher um ice tea gigante que um rapaz pediu e dei-lhe enquanto via Thomas ali especado a comer e a olhar para mim a trabalhar, notando-se que não tinha nada para fazer. Encolhi os ombros. Felizmente hoje não tinha trabalho no restaurante, o que era óptimo, mas planeava fazer umas piscinas de natação porque tinha vontade.
-Ok, pode ser – encolhi os ombros – e queres fazer o quê?

Sorri ao obter uma resposta positiva.
- That's my point, eu não sei o que é que há para fazer aqui - Disse novamente, comendo as pipocas enquanto ela trabalhava. Provavelmente o gerente daquele sítio acabaria, eventualmente, por me vir a chatear a cabeça por estar a importunar a sua funcionária no seu local de trabalho, mas preocupava-me com isso depois. Não é que eu tivesse alguma coisa para fazer e também não era que a Juanita - ou lá como a empregada espanhola se chamava - já estivesse despachada das limpezas. Aquelas casa tinha-se tornado numa real bagunça em apenas uma semana. Corou interiormente ao lembrar-se da comida espalhada por todo o lado, da roupa espalhada pela casa. Enfim.
Comecei a pensar em várias hipóteses do que fazer: se estivesse na minha casa, com os meus amigos, leva-los-ia até lá, víamos os filmes e virávamos umas garrafas de vodka ou outra coisa qualquer. Mas uma vez que eu não conhecia bem a rapariga - apesar de ela me parecer boa pessoa - não ia simplesmente convidá-la para ir lá a casa, até porque isso poderia despertar qualquer tipo de segundas intenções.
- Alguma ideia Auds? - Perguntei, quando o balcão voltou a ficar vazio.

Continuei a encher baldes de pipocas enquanto começava a ter uma maior afluência de pessoas no cinema e todas estas a quererem pipocas porque uma nova sessão estava prestes a começar. Felizmente, estava quase a ir-me embora daquele turno e tinha parte da tarde livre mais a noite. As pessoas vinham e eu simplesmente tinha de ignorar Thomas, no entanto tentava manter uma conversa porque ele estava mesmo em frente ao local de enchimento dos refrigerantes. Gostava do nickname que ele me dera.
-Não sei, não conheço bem o local e dai que não posso avaliar as coisas, depende do que tens em mente para fazer – sorri-lhe porque ia deixar as coisas para ele decidir enquanto dava uma bombada no refrigerando mantendo-me concentrada. Tom tinha imenso tempo para o fazer e com uma data de coisas para fazer e imenso tempo para decidir, havia de ser fácil. Podia sempre uma volta ao centro comercial a ver se havia uma loja interessante para fazer tempo, ou algo assim. Eu simplesmente estava cansada e de tanta carga horária e de tanto sumo de laranja, pipocas doces, pipocas salgadas, ice tea, coca-cola, 7up pacotes grandes e pequenos, não tinha tempo para isso. Começou-se a fazer uma fila com umas 3 pessoas, atendi-as a todas com rapidez. Por fim, lancei-lhe um sorriso, mas vi que já começavam a vir mais pessoas a entrar no cinema para ir comprar os bilhetes – Tens ideias? Uma saída a não sei a onde, dares-me boleia como sempre fazes uma vês que não tenho carro, ver um filme, jantar fora desde que pagues – ri-me – ou outra coisa, desde que não seja ir a um bar porque não estou decentemente apresentável para tais locais de socialite não é. Decide-te e depois vem-me dizer algo – e fiz-lhe um sorriso e voltei a manter a minha posição de profissional competente.

Ela estava a despachar-me amistosamente. Sorri. Era normal, aquilo começava a encher e ela não ia conseguir falar comigo, decidir uma possível actividade lúdica e ainda atender os clientes ao mesmo tempo.
- Está bem, vou dar um giro e depois passo por aqui - Respondi, num tom de voz que fosse audível por cima de todo aquele barulho que se estava a formar ali. A grande questão seria encontrar alguma coisa interessante para fazer. Agora que reparava, ela ficava ligeiramente mais sexy a trabalhar. Abanei a cabeça, e enxotei aquela imagem da minha mente.
Vagueei pelo centro comercial e por fim achei que o Fun Center era capaz de ser giro. Se não fosse isso, encontrava outra coisa qualquer.
Uma hora e meia mais tarde voltei ao cinema, e ela estava a despachar-se para sair.

Ele decidiu ir embora, dar a uma volta a ver se ganhava a inspiração para fazermos algo juntos. Nem sequer me passou pela cabeça que fosse um date, de tão ocupada que estava. Olhei para o lado ao ver que o meu supervisor voltou a estar por lá. Continuei a encher as pipocas nos baldes juntamente com as bebidas a receber dinheiro e o troco. A comparar com as sextas e os fins-de-semana, aquilo não era nada. Por fim, parecia que as pessoas deixaram de ir comprar pipocas. Foi um momento de cerca de três minutos até aparecer mais pessoas, mas que deu por terminado o meu turno. Vi Thomas lá ao fundo com o pacote de pipocas a olhar para mim. Acenei com a cabeça e fui para a área restrita tirar a farda e agarrar as minhas coisas. Assim que o fiz voltei a vestir a minha t-shirt cinzenta, vestir as minhas calças pretas, calçar os meus vans, arrumar tudo no cacifo, assinar a presença, agarrar na mala e ir embora.
Assim o fiz. Despedi-me de todo o pessoal e fui ter com ele. Agora é que reparava, ao aproximar-me dele, sim porque só o tinha visto dentro do carro que ele era bem mais alto que eu. Ao balcão, devido ao facto de aquele ter um nível superior ao chão não dava bem para ter a dimensão das pessoas. Quando fui tomar um café, nem sequer tinha reparado nessas coisas. Sorri.
-Então, já tens ideias?

- Então, já tens ideias?
- Ok, não me apetece estar aqui dentro porque me apetece ir fumar - Comentei - Por isso, pensei que podíamos ir dar uma volta e assim eu já podia fumar - Ri-me - E podíamos ver os arredores. Depois, podíamos voltar e jantar. Mas como também vens, estás à vontade para contribuir com actividades lúdicas para desenvolvermos! - Elucidei-a e ela riu-se.

Olhei-o e encolhi os ombros. Nunca fui pessoa de o imaginar a fumar, mas também não me cabia a mim julgar as pessoas porque também já fumara naqueles tempos mais estúpidos. Felizmente deixei-me disso há muito tempo.
-Por mim, na boa – comentei, passando a mão pelo cabelo e verificando as horas no telemóvel. Começamos a caminhar os dois para fora do cinema, indo pelo centro comercial, lado a lado. Espantava-me como é que ele conseguia caminhar naquelas roupas enormes. Fiquei a olhar sublimemente para ele e depois fomos até ao carro dele onde ele pousou as pipocas e tivemos de sair de lá para ele fumar. Ficamos cá fora, na rua a falar um com o outro. Reparava nele a fumar enquanto encostava-me e pensava no que podíamos fazer, nessa noite. Bares era fora de questão, até porque estava apetecer ficar em casa a ver televisão ou ir nadar. Uma vez que tinha a companhia dele, podíamos ver a cidade, talvez no carro dele porque ele assim pretendia. Tinha de admitir que era bem confortável.
-Jogar Bolling? – Perguntei. Fora uma coisa que me veio a cabeça.
O centro comercial estava bem mais quente que as ruas, ou então era por estar a arrefecer e eu ter apenas uma t-shirt.